A Drª. Kátia Mello é oftalmologista, com especialização em pediatria. É diretora do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello. O perfil profissional e pessoal da médica se funde à história da Clínica.
A origem do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello
Trajetória real de minha vida profissional.
(desculpem se esqueci de alguns fatos ou de amigos, mas são tantas as batalhas e graças a Deus tantos parceiros nas mesmas, que talvez só coubessem em um livro...)
Hoje estou concretizando um sonho que não sabia que viria a aspirar: Como me casei cedo, eu era a única da turma de Medicina na UFRJ, que tinha um bebê. Para que fosse possível conciliar a faculdade com as atividades de mãe e dona de casa, levava minha filhinha então com 5 meses para a creche do Fundão, o que era uma aventura, pois ia de mochila na costas, baby bag na frente, enfrentando ônibus e metrô. Entre uma aula e outra corria para a creche para amamentá-la, com essas "corridas" criei um vínculo com as babás da creche. Cito isso porque há cerca de 2 anos atrás um fato me emocionou muito: atendi uma senhora no consultório que ao me ver perguntou se eu não havia sido estudante do Fundão, e imediatamente lembrou que há aproximadamente 20 anos atrás, ela era quem cuidava de minha filha. Foi emocionante ver aquela senhora, que hoje é chefe da creche, chorar ao ver a foto de minha filha e ao saber que hoje faz também faculdade de Medicina.
Me formei em 1989 e não podia parar ali. Resolvi fazer residência para Pediatria. Consegui ingressar imediatamente e a finalizei em 1992. Durante a residência comecei a fazer parte da ABRAPIA (instituto sem fins lucrativos que dá assistência crianças vítimas de violência).
Nesta época, já comecei a trabalhar em hospitais de emergência e fazer salas de parto.
Porém, ainda havia algo que dizia que faltava mais alguma coisa para complementar minha formação acadêmica. Foi então que por sugestão de meu irmão, oftalmologista, fui fazer um curso realizado na SBO (Sociedade Brasileira de Oftalmologia) com fins de conhecer um pouco mais sobre oftalmologia. Bastou isso para me decidir a fazer nova especializção. Meu segundo filho estava com 2 meses de nascido.
Tive a grande sorte de realizá-lo no Hospital Gafre Guinlé onde tive a honra de conhecer meu professor, instrutor, amigo e grande incentivador: Dr Giovanni Colombini, com quem conto até hoje. Fiz o curso teórico complementar de especializção pela SBO onde entre outros colegas, tive a oportunidade de conhecer outra pessoa que veio a ter grande influência em minha vida pessoal e profissional: Dra Marlia Lanna. Hoje madrinha de minha terceira filha.
Durante minha especialização, mantive emprego formal, aos sábados, como pediatra plantonista de emergência num hospital de grande porte durante 3 anos. Lá conheci meu grande amigo e incentivador nos momentos difíceis para conciliar residência em oftalmologia, plantonista em pediatria e mãe. Hoje o anestesista de nossa equipe cirúrgica: Dr. Luis Martinez.
Ao terminar a especialização, ainda insatisfeita, consegui estágio no Hospital Jesus, para acompanhar o serviço de oftalmopediatria. Conheci pessoas de grande influência também em minha vida profissional: Dra Lucia Puocci (chefe do serviço), excepcional profissional que jamais esquecerei pelo apoio e solidariedade em um momento difícil de minha vida pessoal e Dra Marise. Esta última me convidou a prestar serviços em clínica na Barra da Tijuca junto com ela e os sócios, Dr Orlando Abdo: são pessoas que serei eternamente grata pois aprendi muito a lidar com o paciente ambulatorial em clínica privada e sem dúvidas foi um grande meio de divulgação de meu trabalho e que foi onde fiz verdadeira amizade com um oftalmologista que veio se tornar um excelente cirurgião, e hoje, um irmão para mim: Dr Aloisio Valente.
Ainda nesta trajetória, enquanto tentava encontrar meu lugar, fui acolhida de uma foma muito carinhosa pela Dra Eleusa, na época chefe do Hospital de Ipanema e que me mostrou o ideal de uma medicina humanizada, preocupada com as questões de prevenção à cegueira e preservação da visão. Nesta época trabalhei por um curto período com ela e a sócia, Dra Miriam, mas o suficiente para estreitarmos laços que não se desfazem, vão além do profissional.
Para surpresa de todos, pois estava num local privilegiado, sendo valorizada profissional e financeiramente, resolvi começar sozinha, numa jornada que ninguém entendia a razão: fui então conhecer Duque de Caxias por indicação de um amigo e me apaixonei pelo local, mesmo tendo vaga idéia do desafio que enfrentaria, comecei este sonho.
Iniciei prestando serviço oftalmológico terceirizado para um hospital geral privado no bairro 25 de Agosto e em poucos meses já tinha a fidelização de pacientes. Porém, o hospital foi vendido e resolvi me aventurar a abrir um consultório oftalmológico neste mesmo bairro. O único médico que conhecia de outro local, Dr Valter Luciano, um grande amigo e incentivador, me indicou o prédio onde na época mantinha seu consultório de endocrinologia.
Foi então que abri meu pequeno consultório, numa única sala neste mesmo prédio. Tinha os aparelhos básicos para o atendimento oftalmológico, obtidos por empréstimo de amigos e algum por financiamento. A recepção era um rack de computador e algumas poucas cadeiras. Havia apenas um funcionário que fazia tudo e muito mais: Alex Bittencourt
Como entrei como "forasteira" numa região onde ninguém conhecia meu trabalho, tive que usar a criatividade (que hoje sei que isso se chama marketing empresarial). Iniciei oferecendo atendimento as empresas de medicina de trabalho para exames admissionais e periódicos, fiz palestras em escolas falando sobre a importância da visão no processo de aprendizagem, fiz palestras em semanas de saúde em empresas como, por exemplo, no INMETRO entre outros. Tive outra grande sorte, pois fui apresentada Dra Rosa, que sempre se mostrou uma amiga solidária nos momentos difíceis, inclusive fazia minha filha recém-nascida dormir em seu colo. A Dra Rosa do Sindicato dos Rodoviários que funcionava no andar abaixo da clínica, e fez divulgação entre as empresas de transporte. Foi por intermédio dela que vim a conhecer a Dra Maria Celia Figueiredo, eleita médica do ano, um símbolo a seguir.
Minha "vizinha de sala e xará" Dra Kátia, fonoaudióloga, foi quem me forneceu a primeira lista de planos de saúde para tentar credenciamento; grande amiga, parceira e testemunha de todas as fases que a clínica passou.
Entre essas pessoas, não posso deixar de citar uma amiga que sem nenhuma conotação comercial, sempre me amparou e esteve comigo desde o início, a Fátima Barbosa, da Ótica Preferida, que sempre soube respeitar e valorizar meu trabalho e saber a diferença entre "ótico" e oftalmologista. Ganhei uma irmã.
Aos poucos, os planos de saúde foram se credenciando e o pequeno consultório, após 4 anos, passou a ter "cara de clínica" quando aluguei a sala ao lado e ampliei um pouco mais o espaço. Para mim, foi uma grande vitória, pois o máximo de expectativa que tinha era derrubar o então "muro de Berlin", a parede ao lado.
Outro passo importante foi conhecer o Dr. Anderson, que infelizmente muito cedo nos deixou, mas quem entre outros me indicou para entrar para a Unimed. Tive ainda a honra de receber de suas mãos o "diploma" de cooperada.
Com o aumento do fluxo de pacientes, fui percebendo a variedade de doenças oftalmológicas não diagnosticadas cujas medidas preventivas são extremamente importantes. Mas para isso precisava de tecnologia um pouco mais avançada. Foi quando novamente, por sorte, conheci o Dr Cleber, na época consultor do Sebrae, hoje diretor de Furnas, que fez gratuita e espontâneamente um projeto de análise atual e projeção futura da clínica (não sabia que ele estava certo). Com isso comecei minha parceria com o SEBRAE, e o Proger pela Caixa Econômica (a maioria) e Banco de Brasil e pude aos poucos adquirir os equipamentos para exames complementares em oftalmologia.
Passei a contratar os serviços de oftalmologistas triados, que além de currículo qualificado, tivessem o perfil diferencial da clínica: uma excelente relação médico-paciente.
A clínica realmente se tornou uma clínica.
Passei a ter mais funcionários, nesta fase contratei alguém que viria a ser meu braço direito (muitas vezes os dois), Fábio Leite, muito mais que um funcionário, meu melhor amigo, que começou como recepcionista, em 2 meses tornou-se faturista e hoje ocupa função gerencial devido a sua competência, indiscutível lealdade e dedicação. Obrigada querido, voce sempre terá minha gratidão e carinho pelo companheirismo e por nunca ter me deixado desistir.
Passei a contar com o CIEE com quem mantenho parceria empresa-escola (hoje tenho mais 2 novos estagiários), e tenho o orgulho de dizer que o primeiro, hoje é funcionário, e peça imprescindível ao bom funcionamento da clínica: Vincius.
Aprendi muito, e outro dia me perguntaram como mantenho a fidelização e comprometimento dos funcionários. Pensei bastante sobre isso, conversei com eles e descobri que instintivamente foi através de um bom relacionamento, de incentivá-los a crescer junto, oferecendo cursos e reciclagem, mostrando para eles que a clínica não é minha, mas de toda uma equipe. Percebo isso quando a encarregada de serviços gerais, Ednea, fiel "escudeira" preocupa-se ativamente com o bom desempenho da clínica. Eles souberam que nada prometia, mas que os benefícios chegam sem ninguem pedir, pois vem de acordo com o crescimento da clínica.
Mas o espaço físico passou a ser insuficiente, desconfortável e isso passou a me incomodar. Como poderia defender uma medicina humanizada se na minha clínica não estava oferecendo isso? Foi quando o terceiro andar passou a estar desocupado e apesar de achar impossível locar uma área tão grande, esperei, negociamos por anos, e finalmente consegui locar este espaço.
Agora era colocar em prática o que todos achavam um sonho utópico de unir medicina de ponta a um atendimento humanizado.
Nossos pacientes, que hoje passam de 40 mil, variam desde recém-nascidos até jovens de 95 anos de idade. São muitas e emocionantes histórias nestes quase 9 anos de clínica.
Possuímos uma equipe altamente qualificada contando com oftalmologistas generalistas e especializados para a realização do que for necessário dentro da clínica e ainda contamos com um centro cirúrgico para a realização de cirurgias oftalmológicas de pequeno porte. Porém é importante frizar que o nosso foco é o atendimento humanizado, desde a recepção preparada e sala de espera confortável, e fundamentalmente, a boa relação médico-paciente associada a uma medicina de qualidade tecnológica.
Este é o início da concretização de um sonho, que espero poder provar que não é apenas possível, mas viável , que haja um bom atendimento médico, contando com a tecnologia e o respeito ao paciente, oferecendo diagnóstico e tratamento numa área totalmente voltada a humanização em saúde.
Tenho certeza que não cometi um ato de loucura ao trocar o que podia contar como certo, pela aventura de começar contando apenas com a vontade.
Meus pacientes são também meus amigos e os verdadeiros responsáveis pelo crescimento da clínica, viabilizando este sonho. Obrigada queridos, pelas emoções que me proporcionaram e o carinho sempre presente em seus "olhos" esperançosos.
Agradeço profundamente a todos que acreditaram desde o início, que me apoiaram, especialmente aos meus pais sempre tão presentes e aos meus filhos, os grandes responsáveis por minha determinação e que completam a minha alegria de viver.
Kátia Mello, oftalmologista, diretora do Centro da Saúde Ocular Katia Mello